Governo e trabalhadores divergem sobre privatização da Eletrobras
Dirigentes do Ministério de Minas e Energia e da própria Eletrobras alegaram que a MP possibilita novos investimentos, além de ser indispensável para evitar a liquidação das distribuidoras de energia. Já os eletricitários e parlamentares da oposição argumentaram que a privatização criaria um oligopólio privado altamente prejudicial aos brasileiros e significaria a entrega de um patrimônio do País a empresas estrangeiras.
A audiência foi a primeira realizada pela comissão mista encarregada de analisar a MP o colegiado tem como presidente o senador Eduardo Braga (PDMB-AM) e como relator o deputado Julio Lopes (PP-RJ).
De acordo com o representante do Coletivo Nacional dos Eletricitários, Íkaro Chaves, o modelo de controle estatal é adotado em todos os países que, a exemplo do Brasil, têm produção de energia predominantemente hidrelétrica. Das dez maiores hidrelétricas do Brasil, nove contam com a participação da Eletrobras, que vende a energia mais barata do mercado, disse Chaves. O nosso sistema vem sendo estatizado desde os anos 1940, não por questão ideológica, mas porque as empresas privadas multinacionais não queriam investir no setor elétrico, acrescentou.
Ele afirmou que o objetivo do governo de Michel Temer, ao autorizar a privatização da Eletrobras, é criar um ambiente especulativo sem espaço para as fontes alternativas de energia. Chaves alertou que a consequência será um aumento de 16% a 17%, em média, na conta do consumidor residencial.
Problemas estruturais
Por sua vez, o diretor de Geração da Eletrobras, Antônio Varejão de Godoy, disse que a MP permite investimentos em usinas e garante a tarifa social de energia para os consumidores residenciais de baixa renda. A medida provisória resolve problemas estruturais, sobretudo na Região Norte, para que a sociedade tenha energia a preço acessível, ressaltou. Além disso, segundo ele, a MP harmoniza o planejamento dos setores de gás e de energia elétrica.
Para o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Paulo Pedrosa, o texto faz parte do conceito de que o setor elétrico precisa evoluir e se adaptar à realidade: No sistema atual do Brasil, o modelo estatal tem muitas dificuldades para competir e caminha para a irrelevância. A Eletrobras vem perdendo valor de mercado, afirmou Pedrosa.
Ele afirmou que a privatização da Eletrobras não é o principal tema da MP, e sim do Projeto de Lei 9463/18, do Poder Executivo, que está em análise na Câmara. O objetivo da medida provisória, conforme Pedrosa, é resolver os problemas enfrentados hoje pelas distribuidoras de energia. A não privatização não levaria a outro caminho que não fosse a liquidação das distribuidoras. E nós não cedemos à tentação de buscar uma solução para as empresas criando custos para os consumidores.
Críticas de parlamentares
Com exceção do relator Julio Lopes, a MP foi criticada por todos os deputados que participaram da audiência. É até mais grave do que eu imaginava, pois percebo agora, ao ver a exposição dos representantes do governo, que a MP abre caminho para a privatização das grandes matrizes do setor elétrico brasileiro, sustentou a deputada Jandira Feghali (PCdoB-RJ). Energia não é só mercadoria. Temos de pensar em energia como base para o desenvolvimento e a vida das pessoas, acrescentou.
Para o deputado Glauber Braga (Psol-RJ), a MP não foi editada por questões de relevância e urgência, mas sim por causa da intenção do Executivo de entregar o setor elétrico a qualquer custo, a preço de banana, o mais rapidamente possível. Braga classificou a privatização da Eletrobras como absurda e sugeriu que ela seja submetida a um referendo popular caso venha a ser aprovada pelo Congresso Nacional.
Na avaliação do deputado Danilo Cabral (PSB-PE), o governo quer vender a Eletrobras como se fosse um carro: Estamos falando da décima maior empresa de energia do mundo, que não pode ser entregue desta forma, sem diálogo. Ele criticou a ausência no debate de parlamentares da base governista e do ministro de Minas e Energia,
Fernando Coelho Filho. Os deputados Zé Carlos (PT-MA) e Carlos Zarattini (PT-SP) reforçaram as críticas à medida provisória.
Relatório
O deputado Julio Lopes confirmou que pretende entregar o seu parecer sobre a matéria no próximo dia 10. Teremos um relatório reestruturante para todo o setor de energia elétrica brasileira, adiantou.
Fonte: Agência Câmara