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País está mais resistente a choques, indica estudo

A vulnerabilidade externa do Brasil diminuiu bastante nos últimos anos, amortecendo o eventual impacto de crises internacionais ou domésticas sobre o Câmbio. Essa evolução se deu essencialmente pela redução do Déficit em conta corrente e pela melhora do perfil do chamado passivo externo bruto (PEB), aponta estudo feito pela economista Andréa Bastos Damico, do Bradesco.

O passivo externo bruto é composto pelo estoque de investimentos diretos no país, investimentos em carteira (ações e renda fixa) e empréstimos externos, sendo uma medida importante do potencial de recursos que podem pressionar o Câmbio em momentos de crise.

Segundo analistas, a menor vulnerabilidade externa ajuda a explicar por que Câmbio e risco-país sofreram pouco depois da eclosão da nova crise política, após divulgação das delações da JBS, em 17 de maio. Também ajuda o cenário internacional favorável aos emergentes.

O Déficit em conta corrente vem caindo desde 2015. Em 2014, o rombo das transações de bens, serviços e rendas do país com o exterior chegou a US$ 104,2 bilhões, o equivalente a 4,2% do PIB e inferior ao investimento direto no país, que ficou em US$ 96,9 bilhões. Ou seja, o fluxo de IDP foi insuficiente para cobrir o buraco na conta corrente naquele ano. Faltaram US$ 7,3 bilhões.

Esse quadro mudou significativamente desde 2014, destaca Andréa. Nos 12 meses até julho deste ano, o Déficit em conta corrente ficou em US$ 13,8 bilhões, ou 0,7% do PIB, enquanto as entradas de IDP superaram as saídas em US$ 84,5 bilhões nesse período. A recessão e a desvalorização do Câmbio desde 2014 derrubaram as importações e diminuíram as remessas de lucros e dividendos. Neste ano, exportações voltaram a crescer com mais força, engordando os superávits comerciais. O Bradesco estima o Déficit em conta em 0,35% do PIB neste ano.

A economista destaca a melhor qualidade do passivo externo bruto, que atingiu US$ 1,537 trilhão em julho. A maior concentração do PEB em investimentos diretos no país e em ações é sinal da melhora do perfil dessas obrigações externas – em julho, quase 72% do passivo externo bruto era composto pelo estoque de IDP e de investimento em ações. Em dezembro de 2014, a fatia era de 64%; em dezembro de 2001, ano em que começa a série, era de 43%. Isso é relevante porque, se a economia passa por uma desaceleração econômica, o “serviço” desse passivo também se reduz, acompanhando o ciclo econômico, “Remessas de lucros e dividendos cedem”, diz Andréa.

A concentração do PEB brasileiro em IDP e investimento em ações é bastante alta para padrões internacionais, indica o estudo. De uma lista de 52 países desenvolvidos e emergentes, o Brasil fica em sexto lugar, com 71,5% do PEB compostos pelo investimento direto e em ações. A lista é liderada por Luxemburgo, com 79,3%. O passivo externo brasileiro é “muito possivelmente mais cíclico do que a média dos países”.

Isoladamente, o estoque de IDP já responde por mais da metade do passivo externo bruto. Ampliar a concentração em IDP é desejável, uma vez que se trata de um investimento com características de longo prazo e que raramente deixa o país em momentos de crise”, diz Andréa, referindo-se aos recursos estrangeiros para a agropecuária, atividades extrativas, indústria e serviços.

“Normalmente vemos uma redução desses influxos em situações adversas, mas quase nunca saídas de fato, como evidenciado nos dados acumulados em 12 meses e também nos números mensais”, escreve ela, em relatório sobre o assunto. A parcela do IDP no passivo externo bruto atingiu 52% em julho deste ano, acima dos 47% de dezembro de 2014 e dos 33% de dezembro de 2001, por exemplo. “Com a melhora do passivo externo bruto, o país fica menos sujeito a fugas de capitais, o que contribui para oscilações do Câmbio menos intensas”, destaca Andréa.

Se o passivo externo bruto está concentrado em dívida, seja por meio de títulos ou de empréstimos externos, a composição é pior. Em dezembro de 2001, a fatia de títulos da dívida e de empréstimos no PEB era de 53% e em dezembro de 2014, de 33%. Já em julho deste ano, era de 28%. Outro ponto favorável do passivo externo bruto brasileiro é que cerca de dois terços estão denominados em reais. “Se isso ocorre, há de certo modo um amortecedor em momentos de crise, pois o investidor que desejar deixar o país acaba pagando um pedágio, que é a desvalorização do Câmbio”, diz Andréa. Para comprar uma determinada quantia de dólares para enviar ao exterior, é necessário um volume maior de reais, dada a depreciação da moeda.

A economista do Bradesco afirma que isso é “relevante do ponto de vista dos fluxos da conta financeira do balanço de pagamentos, mas é ainda mais importante do ponto de vista de estoques”. Com essa composição, a parcela do passivo externo bruto em moeda local “cederá em dólares” quando ocorrer uma depreciação do Câmbio, diz Andréa. Com isso, “o passivo externo líquido também será reduzido, diminuindo a vulnerabilidade externa”, escreve.

O passivo externo líquido é a diferença entre o passivo e o ativo externo bruto, composto principalmente pelas reservas internacionais, hoje na casa de US$ 380 bilhões. No país, esse movimento foi claro na crise de 2008 e mais recentemente em 2014 e 2015. A taxa de Câmbio passou de R$ 2,20 em meados de 2014 para R$ 4 no fim de 2015, e o passivo externo líquido saiu de US$ 875 bilhões para US$ 460 bilhões.

 

 

Fonte: Valor

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