Contas públicas têm superávit de R$ 12,9 bi em abril
As contas públicas voltaram a ficar no azul em abril. O país economizou R$ 12,9 bilhões para pagar juros da dívida pública. Mas o que poderia ser um bom sinal de retomada de estabilidade já é visto como incerteza por analistas, por causa da crise política, agravada na última semana. As dúvidas em relação à aprovação da reforma da Previdência corroem as expectativas de melhora na área fiscal, principal fonte das turbulências econômicas dos últimos anos.
– Os desenvolvimentos recentes aumentaram a incerteza política, que poderia minar a trajetória fiscal e de dívida de médio prazo. Nesse contexto, o projeto de reforma fiscal do Congresso poderia, na melhor das hipóteses, ver sua aprovação adiada e seu conteúdo possivelmente mais erodido. Na pior das hipóteses, poderia ser arquivado definitivamente – afirmou o economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, Alberto Ramos.
ROMBO NA PREVIDÊNCIA.
Quase a totalidade do chamado superávit primário do setor público (União, estados, municípios e empresas estatais) foi feita pelo governo federal. Em março, houve déficit de R$ 11 bilhões, segundo o Banco Central.
Em abril, somente o governo federal poupou R$ 23,7 bilhões. Esse esforço fiscal compensou os R$ 11,5 bilhões de rombo na Previdência Social.
Alvo de uma tentativa de reforma, as aposentadorias continuam a ser as principais responsáveis pelo desequilíbrio do país. Nos quatro primeiros meses do ano, a Previdência acumula um déficit de R$ 52 bilhões, 33% a mais que no mesmo período de 2016.
Fernando Rocha, chefe-adjunto do departamento econômico do BC, ressaltou o peso da Previdência nas contas públicas. Lembrou que o rombo das aposentadorias tem piorado e que isso exige da União mais sacrifício fiscal.
– É uma questão estrutural: o governo federal fazendo superávit para compensar o déficit da Previdência.
PRIMEIROS 4 MESES POSITIVOS.
Mesmo com essa pressão da Previdência, o governo conseguiu, com corte de despesas, ficar no azul. De janeiro a abril, o superávit primário acumulado é de R$ 15,1 bilhões, 242% maior que a economia feita no primeiro quadrimestre de 2016. O problema é que os gastos do governo sempre aumentam no fim do ano, por causa, por exemplo, do pagamento de 13º salário.
Nos últimos 12 meses, o Brasil amarga um déficit primário de R$ 145,1 bilhões (2,29% do Produto Interno Bruto, PIB). Isso é 0,05 ponto percentual do PIB inferior ao déficit registrado nos 12 meses até março, ou seja, ficou praticamente estável.
– Esse desempenho de estabilidade mostra o controle que está sendo feito nas despesas. Isso apresenta a necessidade de contar com a gestão fiscal para alcançar a meta do ano – frisou Rocha.
Mesmo no azul, o Brasil não conseguiu pagar os juros da dívida que venceram em abril. O país tinha de arcar com R$ 28,3 bilhões em abril. Quando não há abatimento, o juro é rolado. No ano, a carga de juros imposta ao país é de R$ 138,8 bilhões. Em 12 meses, os juros chegaram R$ 437,1 bilhões.
Fonte: O Globo