EUA: empresas apoiam proposta, mas criação de empregos não é garantida
Se o plano do presidente dos EUA, Donald Trump, de reduzir o imposto das empresas e sobre recursos acumulado no exterior se tornar lei, as empresas americanas terão lucros espetaculares. Mas não está claro se, em troca, elas irão estimular uma escalada de investimentos e de criação de empregos.
Segundo as propostas de Trump, as empresas americanas deixarão de ser as que mais pagam impostos entre os países do G-20 (grupo que reúne as maiores economias do mundo) e passarão a ser as que menos pagam. Se aprovadas, as alíquotas cairão para patamares inferiores aos praticados nos vizinhos México e Canadá.
Líderes empresariais e grupos de lobby, como a Câmara de Comércio dos EUA, saudaram a proposta do governo, embora admitam que ainda faltam detalhes decisivos. O plano de reduzir o imposto de renda federal das empresas de capital aberto de 35% para 15% não detalha os cortes de gastos que ajudarão a manter o déficit público americano sob controle.
O executivo-chefe da AT&T, Randall Stephenson, deu boas vindas ao plano, mas alertou: “A realidade prática de chegar a 15% é que você tem de aceitar um certo nível de déficit por um período, enquanto recebe o estímulo econômico”.
As grandes empresas americanas têm quase US$ 1,8 trilhão em caixa acumulado no exterior, de acordo com a agência Moody´s Investors Service. A Apple tem mais de US$ 200 bilhões desse total.
A Apple não quis comentar o plano do governo, mas seu executivo-chefe, Tim Cook, já disse que a companhia traria de volta o dinheiro acumulado no exterior se as alíquotas forem reduzidas. “O que faremos [com esse dinheiro], vamos esperar para ver exatamente o que será”, disse Cook a investidores em teleconferência em janeiro sobre os resultados do primeiro trimestre da empresa.
O comentário de Cook aponta para uma grande incógnita para a Casa Branca e os republicanos do Congresso, que disseram que as reduções dos impostos das empresas resultarão em mais e melhores postos de trabalho. Estudos dos resultados de isenções fiscais temporárias passadas detectaram que a maior parte do dinheiro externo internalizado pelas companhias americanas foi empregada para recomprar ações ou fazer aquisições, e não para custear investimentos em capacidade de produção ou em criação de empregos.
Pressionadas por acionistas, empresas cotadas em bolsa fixaram altas metas de retorno sobre o capital investido. A General Motors, por exemplo, disse a investidores que visa obter 20% de retornos sobre investimento de capital.
Muitas empresas americanas têm se mostrado cautelosas em investir em unidades de produção e em equipamentos novos depois da última recessão, que as deixou temerosas de ficar com excesso de capacidade. Desde 2014, os investimentos em novos equipamentos ficaram inalterados, de acordo com dados do governo americano.
O impacto financeiro do plano de impostos da Casa Branca vai variar muito de acordo com a empresa e o setor. Empresas do índice S&P 500 pagaram uma alíquota média de impostos de 29,06% em 2016, disse a Standard and Poor´s. A mudança de alguns pontos percentuais nas alíquotas de impostos pode fazer uma grande diferença.
A fabricante de aeronaves Boeing divulgou ontem um aumento de 19% nos lucros do primeiro trimestre, em parte devido a uma queda de 4 pontos percentuais de sua alíquota de imposto. “Sem sombra de dúvida, somos grandes apoiadores da reforma fiscal”, disse o diretor financeiro da Boeing, Greg Smith. “Ela vai puxar os empregos, vai puxar a economia americana de forma geral e nos permitirá concorrer.”
A Boeing fechou vagas nos EUA, e advertiu funcionários na semana passada que planeja mais uma rodada de cortes que eliminará centenas de empregos de engenharia.
Embora os cortes de impostos possam dar um impulso de curto prazo à economia e alimentar ainda mais a alta da bolsa, ficam aquém da reforma fiscal abrangente que Trump prometeu antes.
Com relação a outras partes de sua agenda, seu governo tem sido frustrado pelos tribunais nas tentativas de limitar a imigração, enquanto a tentativa de derrubar e substituir o plano de assistência médica conhecido como Obamacare fracassou no Congresso.
“Um cínico diria que esta é uma tentativa apressada de ter alguma coisa grande a mostrar para os 100 primeiros dias do presidente Trump no poder”, disse Luke Bartholomew, estrategista de investimentos da Aberdeen Asset Management de Londres.
Fonte: Valor