NotíciasPrevidência

Atraso na reforma da Previdência causa instabilidade aos mercados

O processo de votação da reforma da Previdência Social continua sendo o principal fator de preocupação dos investidores. O consenso, por enquanto, é de que a reforma será aprovada, mas atrasos e mudanças no texto original têm causado instabilidade no mercado financeiro. Ontem, o dólar teve a maior alta em quase um mês, a bolsa de valores caiu abaixo dos 64 mil pontos e as taxas de juros futuros subiram.

A espera pela votação da reforma somou-se à queda do petróleo e o Ibovespa fechou com baixa de 1,17% aos 63.407 pontos. “A reforma deve ser aprovada ainda mais depois da flexibilização do texto. Se for assim, o Ibovespa pode subir para até 67 mil pontos”, diz Marco Tulli Siqueira, gerente de mesa Bovespa da Coinvalores. Um indicador que reforça a aposta dos investidores na aprovação da reforma é o CDS (credit default swap), que mede o risco de calote do país. Ontem, o contrato de cinco anos do CDS estava em 226 pontos básicos, segundo dados da Markit, praticamente inalterado desde o começo do mês. “Se houvesse um receio maior de que a Previdência não seria aprovada, o CDS estaria em um patamar mais elevado”, diz Ignácio Crespo, economista da Guide Investimentos.

As ações ordinárias da Petrobras fecharam com queda de 2,84% e os papéis preferenciais tiveram baixa de 3,55%. Como as duas ações juntas representam 10% da composição do Ibovespa, o movimento negativo contaminou o principal índice da bolsa de valores. A queda das ações seguiu o movimento do preço do petróleo no mercado internacional. Os contratos futuros do petróleo WTI fecharam com queda de 3,8%, para US$ 50,44 por barril, depois que o Departamento de Energia dos Estados Unidos reportou um aumento das reservas de gasolina pela primeira vez desde fevereiro. A alta foi de 1,5 milhão de barris, o que causou receios de que, tal como no ano passado, as refinarias decidam reduzir a produção. Já as reservas de petróleo foram reduzidas em 1 milhão de barris, segunda queda semanal consecutiva.

O dólar fechou perto de R$ 3,15, em linha com o fortalecimento global da moeda no exterior. No Brasil, a pressão no câmbio mais uma vez refletiu o temor dos investidores de que as concessões já feitas pelo governo no projeto original da reforma previdenciária possam estimular novas demandas de parlamentares, o que achataria ainda mais o projeto, com riscos de reduzir a potência da reforma e do ajuste fiscal.

O parecer do relator do projeto na Câmara, deputado Arthur Maia (PPS-BA), trouxe “surpresinhas” – como ele mesmo disse. Pressionado pela bancada ruralista, o governo desistiu de elevar o tempo de contribuição do trabalhador rural e de igualar a idade mínima de aposentadoria do homem e da mulher da agricultura familiar. O parecer tampouco trouxe o fim da isenção das entidades filantrópicas sobre as contribuições previdenciárias.

O parecer será votado apenas em 2 de maio. Maia tentou minimizar o acordo feito com a oposição para votar nessa data, evitando classificá-lo como derrota. Mas o governo contava que a votação ocorreria ainda neste mês de abril. No fechamento, o dólar comercial subiu 1,11%, a R$ 3,1477. Trata-se da alta mais forte desde 23 de março (1,34%), e o mais alto patamar desde 7 de abril (R$ 3,1499). No mercado futuro, o dólar para maio tinha alta de 1,33%, a R$ 3,1565.

O real foi destaque de baixa nos mercados globais de câmbio. A moeda brasileira foi a segunda que mais perdeu valor entre 33 pares do dólar, só superando o peso mexicano, que caiu 1,4%. Receios em torno de políticas protecionistas do governo do presidente americano, Donald Trump, voltaram a pesar sobre as cotações da moeda mexicana. Não bastasse isso, o tombo de quase 4% dos preços dos contratos futuros de petróleo elevou a aversão a risco, alvejando divisas correlacionadas às commodities, entre elas o real.

Os juros futuros de prazos mais longos subiram também com um suporte extra do ambiente externo mais arisco, caracterizado pela firme alta dos “yields” dos Treasuries mais longos. Ao fim do pregão regular, o DI janeiro de 2021 – mais suscetível a incertezas de ordem estrutural – subiu a 9,93% (9,88% no último ajuste). Entre os vencimentos mais curtos, o destaque ficou com o contrato de outubro de 2017, que teve volume mais forte que o contrato de juros para julho de 2017 – que reflete apostas para a reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) de maio. O DI outubro de 2017 – que considera as reuniões do Copom de maio, julho e setembro – tinha taxa de 9,960% (9,965% no último ajuste). O IPCA-15 de abril, que sai hoje, deve mexer com as expectativas do mercado para os próximos passos da política monetária.

Fonte: Valor

Falar agora
Olá 👋
Como podemos ajudá-la(o)?