Queda dos juros afetará rendimento da poupança
Os investidores que costumam fazer depósitos na caderneta de poupança devem ficar atentos para as mudanças no cálculo do rendimento que podem ocorrer em breve. Os ganhos dos poupadores vão diminuir quando a taxa básica de juros (Selic) atingir ou ficar abaixo de 8,5% ao ano. Quando isso ocorrer, os juros pagos pelas cadernetas vão ser equivalentes a 70% da Selic mais a variação da Taxa Referencial (TR), o que implicará remuneração menor que a atual.
Hoje, a poupança paga 6,17% ao ano mais a TR. Quando a Selic chegar a exatos 8,5% ao ano, o rendimento será de 5,95% mais a TR. Por enquanto, a Selic está em 12,25% ao ano, mas a previsão do mercado financeiro é que atinja 8,5% no fim deste ano. Até lá, a atual rentabilidade será mantida.
A regra que vincula a remuneração da poupamça ao nivel da Selic foi adotada em 2012, durante o governo Dilma Rousseff. O objetivo foi garantir que o Estado mantivesse a arrecadação de recursos com os fundos de investimento, que são os maiores compradores de títulos púbicos e, portanto, grandes financiadores da dívida pública.
Na época, o governo vinha forçando a queda dos juros básicos. Se a regra anterior fosse mantida, a partir do momento em que a Selic caísse abaixo de 8,5%, a poupança de tornaria muito atrativa e atrairia recursos dos fundos.
“Os títulos públicos servem para o governo arrecadar mais dinheiro quando ele precisa. A rentabilidade desses títulos varia de acordo com a Selic. Se ela cair ao ponto de deixar a poupança mais atrativa, as pessoas vão parar de emprestar para o governo”, explicou o economista Roberto Troster, da Troster Associados, que foi economista-chefe da Federação Brasileira de Bancos (Febraban).
Amanhã, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central vai anunciar um novo corte da Selic. O mercado espera uma redução de um ponto percentual, trazendo a taxa para 11,25% ao ano. Novas quedas deverão ocorrer nos próximos meses, sobretudo se o Banco Central conseguir manter o controle da inflação.
Comodidade
A copeira Flora Paulino, 43 anos, guarda dinheiro na poupança há mais de 25 anos, desde que percebeu que seria uma boa alternativa se precisasse sacar o dinheiro em caso de urgência ou para usufruir dele no futuro. Flora reconhece que o rendimento é baixo e pode se tornar ainda menor, mas é atraída pela comodidade e pela facilidade da aplicação.
“Comparando com outros investimentos, a poupança realmente não tem muitos ganhos, mas ela possui uma facilidade imensa. Se eu precisar do dinheiro, basta procurar um caixa eletrônico”, disse Flora. Para Edmilson Lyra, presidente da Associação Brasileira de Educação Financeira (Abef), a poupança vai ficar mais desestimulante com a mudança no cálculo. Segundo ele, muitas pessoas não têm conhecimento de outras formas de investimento e se acomodam com a caderneta.
“Será cada vez mais necessário que as pessoas tenham uma reserva consistente para o futuro. Hoje é preciso, mais do que nunca, se preparar para a aposentadoria. Não existe mais a dependência do governo. E, com a poupança, não se faz essa reserva, porque quem investe nela pode até perder poder aquisitivo, ou seja, dinheiro”, afirmou Lyra.
Jankiel Santos, economista-chefe do Banco Espírito Santo acredita que a migração de investidores não será grande, porque, ao contrário da poupança, que é isenta, outras aplicações sofrem a incidência do Imposto de Renda. Além disso, a maior parte da população não tem informação suficiente sobre outros investimentos. “As pessoas podem procurar alternativas, mas muitas não possuem conhecimento sobre como investir ou como ganhar mais”, pontuou.
Fonte: Correio Braziliense