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Chances crescem com reforma

Em ano de aperto fiscal, a tendência seria de fechamento das contratações no governo federal. Mas a máquina está com deficit de pessoal e não pode ser paralisada, asseguram especialistas. A proposta de reforma previdenciária pode ser mais um fator favorável aos concurseiros, pois espera-se que vários servidores, na iminência da aposentadoria, entrem com o pedido, a fim de não serem prejudicados pelas regras mais rígidas. Por isso, mesmo com a contenção de gastos, a reposição do funcionalismo público é garantida para este ano e para os próximos.

Sobre a oferta de vagas da área federal para 2017, dirigentes de cursinhos preparatórios ponderam que “já foi bem melhor”. Há cinco anos, o governo dispunha do dobro dos cerca de 20 mil cargos que oficializou na Lei Orçamentária Anual (LOA) deste ano, para preenchimento urgente na máquina federal. Mas 2014 e 2015 registraram quedas abruptas nas contratações da União.

Mesmo assim, a expectativa dos concurseiros foi superada, contrariando discursos do ministro do Planejamento, Dyogo Oliveira, que seguidamente negava a abertura de novos concursos neste ano. A LOA vem com mais 7 mil colocações, adicionadas no Congresso Nacional e ampliando a lista de 13 mil que o próprio Executivo planejava. Nas contas de especialistas, o total de vagas que serão abertas pode subir a 30 mil na esfera federal.

“Uma coisa é a publicidade que o governo, em especial o Planejamento, precisa fazer em uma situação de ajuste fiscal, pois, se ele dissesse que vai abrir vagas e  aumentar as despesas com pessoal, desacreditaria o ajuste. Mas a máquina pública não pode parar”, diz Pablo da Nóbrega, coordenador do preparatório Ifar Concursos. Para o especialista em contas públicas Ricardo Rocha, a proposta de reforma da Previdência, ao mesmo tempo em que pode aumentar a necessidade de preenchimento de cargos com a aposentadoria de servidores que já dispõem de tempo para parar de trabalhar, deve reduzir a atratividade do serviço público para alguns. O interesse de alguns jovens de boas escolas, privadas e públicas, que “viraram concurseiros olhando a aposentadoria” pode diminuir.

Segundo ele, jovens com acesso privilegiado a boas escolas, portanto bem formados, que escolhiam a carreira de servidor pela garantia da remuneração integral com benefícios na hora de se aposentar, devem pensar duas vezes, à medida que a reforma  muda isso. “A proposta do governo, embora muito mal explicada à população, vai fazer com que o serviço público perca essa atratividade. O jovem terá que refletir e escolher a carreira pela paixão, não pela aposentadoria”, diz o especialista.

Estabilidade Sem se preocupar com a questão da aposentadoria, mas pensando na estabilidade que o serviço público oferece, Queila Maia, 29 anos, Débora Assunção, 25, Manuella Bandeira, 24, e Priscila Marra, 33, há cerca de um ano se dedicam totalmente aos estudos. Além das aulas no cursinho de manhã, estudam, pelo menos, mais quatro horas por dia. Elas têm formação superior e aspirações diferentes, mas estão unidas no objetivo de passar em um concurso público.

A advogada Queila Maia, que já conseguiu a aprovação na OAB, não pretende exercer a advocacia. “Prefiro trabalhar em algum órgão de fiscalização ou controle”, conta. A veterinária Priscila Borges Gonçalves também não exerce a profissão na qual se formou e procura no serviço público a tão sonhada estabilidade. “Já faz um ano que eu estou apenas estudando. Fiz algumas provas em 2016, mas não passei. Meu objetivo mesmo é o legislativo: Câmara ou Senado”, diz.

Assim como as companheiras de estudo Queila, Débora, Manuella e Priscila, a estudante Bianca Lima, 22, tem uma rotina puxada. Desde que trancou a faculdade de psicologia há um ano e meio, trabalha como monitora de crianças com necessidades em uma escola pública em Ceilândia e estuda para concurso.

São três horas e meia de aulas pela manhã, depois vai para o trabalho, das 13h às 17h, e volta para a sala de estudos do curso preparatório. “Em casa não dá, tem muito barulho, muita interrupção e coisas para me distrair, prefiro ir para o cursinho porque lá meu estudo rende mais. Às vezes eu saio de lá às 22h”, conta Bianca.

O esquema de estudos da estudante foi desenvolvido por ela, combinando diferentes técnicas. “Sempre que eu vejo um conteúdo novo, eu tenho que revisar em até 24 horas. Depois, eu pego meus resumos e leio em voz alta, gravando com o celular, para escutar no ônibus”, descreve.

A redução nos concursos públicos ocorrida nos últimos dois anos foi causada pelas instabilidades político-econômicas, explica o professor Nóbrega, do Ifar.  Com incertezas na área política, aliadas à recessão econômica, o deficit de pessoal na máquina federal está agravado, diz ele. Tanto por aposentadorias quanto por desligamentos de servidores por licença-saúde e outros motivos. Mas, na opinião dele, os números já apontam para um 2017 bem melhor.

“O cenário é favorável, pois, pela lógica, do rigor fiscal as oportunidades deveriam diminuir, mas o próprio cabeça do ajuste, o ministro da Fazenda, Henrique Meireles, exigiu a abertura de cerca de 400 vagas na Receita Federal”, diz.

Nóbrega dá como certa a abertura de concurso no Ibama, que desde 2012 não contrata. “Existe uma probabilidade bem grande”, afirma o dirigente de cursinho. Destaca ainda a iminência de edital para 200 vagas de perito criminal na Polícia Federal. E ainda na Polícia Rodoviária Federal.

Está prevista a abertura de concursos também no Legislativo federal, destaca o professor Anderson Ferreira, do IMP Concursos. A LOA tem estimativa de, pelo menos, 129 oportunidades na Câmara e outras 60 no Senado. O professor aposta que a oferta será bem mais generosa. Isso sem contar as mais de 10 mil vagas na área militar, com recursos já destacados.

“As grandes promessas estão em 2017”, diz Ferreira. “Tem a possibilidade de concurso na Receita, para auditor interno na Controladoria Geral da União, e outros órgãos do Judiciário”. Na LOA, as áreas da Justiça Federal estão com previsão de, pelo menos, 2,2 mil vagas novas. Segundo ele, também há grandes chances de concurso em agências reguladoras, como Anatel (Telecomunicações), Aneel (energia), Anvisa (vigilância sanitária) e Abin (Inteligência). Órgãos que, há muito, acusam redução sensível de pessoal.

Casta Para o professor do Instituto de Ensino (Insper) de São Paulo, o especialista em contas públicas Ricardo Rocha, o concurseiro precisa ter em mente, a partir de agora, que, se a reforma previdenciária passar, o servidor público do futuro deixará de ter os benefícios que o tornam “uma casta” privilegiada, atualmente – salário integral, tempo de serviço diferenciado. A reforma, explica ele, trará mudanças importantes para os jovens entrantes no mercado de trabalho, tanto no setor público, quanto no privado.

Curso on-line ganha força

Por ser mais barato e uma série de outras razões que desembocam no conforto e comodidade do interessado, os cursos preparatórios para concursos on-line vêm crescendo de forma expressiva. Já superam a quantidade de alunos que se sentam nas cadeiras das salas físicas, segundo estimam especialistas.

“A preparação torna-se mais democrática, porque você tem estudantes de todas as regiões do país aprendendo sobre a mesma matéria, com o acesso às informações de maneira mais uniformizada”, diz Gabriel Granjeiro, presidente do Grancursos Online, que tem alunos tanto de Roraima quanto do Rio Grande do Sul.

Parece mesmo ser uma nova tendência de mercado, cita ele, que viu o número de alunos clientes quadruplicar desde 2013, quando abriu o negócio. Em relação a 2015, este ano as matrículas on-line duplicaram.

Entre os argumentos para a forte procura, em primeiro lugar há as taxas de desemprego, que não pararam de crescer, mesmo com o novo governo no Planalto há um semestre. Em segundo, a maior penetração da internet em localidades do país antes cobertas de maneira precária, como locais da Região Norte, por exemplo.

Comodidade  O tráfego e a falta de estacionamento nas grandes cidades é outra razão que leva o estudante a não querer sair da zona de conforto, ou seja, de casa. Também por razões de segurança. A questão preço entra como item importantíssimo da lista, já que o preparatório on-line custa quase a metade do curso presencial.

Granjeiro destaca como principal fator, o perfil dos alunos on-line: os jovens. “O público mais prejudicado pela crise são os mais jovens, que enfrentam dificuldades para entrar no mercado de trabalho.”

Nesse caso, o serviço público se apresenta para essa faixa etária como a melhor proposta de trabalho, porque não discrimina, pouco exige de experiências e oferece outros atrativos viáveis a quem é novato no mercado de trabalho.

Fonte: Correio Brasiliense

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