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Presidente do Ibre diz que debate sobre ajuste fino do juro é “desimportante”

A discussão sobre o ajuste fino da política monetária é “desimportante” e não é isso que fará muita diferença para a recuperação da atividade, avalia Samuel Pessôa, pesquisador do Instituto Brasileiro de Economia (Ibre) da Fundação Getulio Vargas (FGV). Para ele, o mais relevante é aprovar o projeto que limita o crescimento dos gastos da União, avançar com a reforma da Previdência e adotar algumas medidas que aumentem a eficiência da economia. A demora na retomada se deve a fatores cíclicos e estruturais, que dificultam a saída da recessão, diz Pessôa.

“Ajuste fino de política monetária tem efeito de segunda ordem tanto sobre a atividade econômica quanto sobre a restrição fiscal”, afirma ele. “Se houver por um acaso um erro para maior nos juros básicos escolhido pelo Copom, a inflação correrá por um tempo abaixo da meta, o que permitirá juros um pouco mais baixo à frente, compensando tanto a atividade quanto os custos fiscais.”

Pessôa lembra que o mercado já projeta uma Selic de 10,5% em dezembro de 2017, com a perspectiva de queda da inflação.”Com um IPCA de 5%, são juros reais na casa de 5,5%”, diz ele. “No fim de 2018, o juro real [descontada a inflação] pode ser de 4,5%.” Hoje, a taxa real está próxima de 8,5%.

Para Pessôa, se houver algum erro no juro, seria algo na casa de 1 ponto percentual. “De qualquer forma, não serão 100 pontos básicos [1ponto percentual] para mais ou para menos que nos tirarão do buraco em que nos metemos. Além da posição cíclica muito desfavorável com a qual iniciamos o ajuste, há problemas estruturais de sobre que explicam a lentidão da retomada.”

Ao explicar por que o Brasil entrou na crise numa “posição cíclica” ruim, Pessôa lembra que o desemprego estava baixíssimo em 2014 e havia situação inflacionária muito complicada. “A inflação inercial estava na casa de 6,5% a 7%”, afirma Pessôa, lembrando que havia a necessidade de corrigir os preços administrados em quase 20%. Nesse cenário, foi necessária uma recessão muito forte para elevar a taxa de desemprego e fazer a inflação cair.

Além disso, fatores estruturais dificultam a recuperação, diz Pessôa, lembrando do problema fiscal. O país tem uma dívida bruta elevada e em trajetória ascendente, o que afeta a confiança. Para Pessôa, não parece o caso de se acelerar o ajuste fiscal, como sugerido pelo ex-presidente do BC Arminio Fraga, em entrevista recente ao Valor. A equipe comandada pelo ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, optou por uma estratégia gradual de ajuste, em que o resultado primário só deve voltar ao azul dentro de alguns anos.

“Agora é ter sangue frio”, avalia ele, citando a importância do projeto do teto de gastos e da reforma da Previdência, além de iniciativas para avançar na agenda microconômica. O economista observa que as desonerações tributárias precisarão ser revistas em algum momento.

O outro fator estrutural que atrapalha, segundo Pessôa, é o esgotamento da Nova Matriz Econômica (NME), as medidas adotadas especialmente a partir do mandato da ex-presidente Dilma Rousseff, como o maior intervencionismo na economia, a queda forçada de juros e uso dos bancos públicos para tentar estimular a atividade.

Segundo Pessôa, a NME promoveu uma série de investimentos que tinham como premissa uma capacidade ilimitada do Estado brasileiro em financiá-los, por meio do Tesouro, dos bancos públicos e das estatais. Um exemplo é o fato de que a Petrobras chegou a responder por 10% do investimento total no país, observa ele. Em poucos anos, a dívida da empresa cresceu com muita força, mas a produção aumentou pouco. O endividamento passou a equivaler a algo como 4 a 5 vezes a geração de caixa. A situação ficou insustentável, levando a companhia a reduzir muito volume investido.

Outro caso é o da indústria naval. Segundo Pessôa, os planos para o setor só ficavam de pé tendo como pressuposto financiamentos ilimitados do BNDES para a Transpetro comprar navios por valores equivalentes ao dobro ou triplo dos preços internacionais. Em suma, investimentos que aumentaram de modo artificial. Esse modelo, porém, se esgotou, levando à retração do que se investe na economia, com impacto fortemente negativo sobre o PIB.

Fonte: Valor

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