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Petição pedindo asilo para Snowden coleta 37 mil assinaturas em 12 horas

A petição online para que o governo brasileiro conceda asilo político ao ex-consultor da Agência Nacional de Segurança dos Estados Unidos (NSA, na sigla em inglês) Edward Snowden conseguiu coletar mais de 37 mil assinaturas em um período de pouco mais de 12 horas. Publicada no site da organização Avaaz no dia 21 de novembro, a campanha ganhou maior visibilidade após a divulgação de uma carta aberta de Snowden citando a necessidade de um asilo político, para que ele possa continuar denunciando o esquema de espionagem envolvendo o governo dos Estados Unidos.
Segundo a Avaaz, a campanha tinha coletado pouco mais de 2,5 mil assinaturas até a manhã de terça-feira, quando foi divulgada a carta de Snowden. Das 3h às 15h30 (horário de Brasília), mais de 37 mil pessoas assinaram a petição, totalizando 44.019 registros às 16h25. A meta dos organizadores é chegar a um total de 50 mil assinaturas – patamar que, se mantido o ritmo atual, deve ser atingido nas próximas horas.
“Edward está ficando sem tempo. Ele está com um visto temporário na Rússia, e como condição para sua permanência lá, ele não pode falar com a imprensa ou ajudar jornalistas e ativistas a entender melhor como funciona a máquina norte-americana de espionagem mundial. O prazo do seu visto está acabando, e nós sabemos que os EUA querem, de qualquer forma, trazê-lo de volta ao solo norte-americano e colocá-lo na cadeia pelo resto de sua vida, ou ainda pior”, diz o texto pedindo apoio aos brasileiros. A campanha foi criada por David Miranda, publicitário e namorado do jornalista Glenn Greenwald – o responsável pela divulgação dos casos de espionagem do governo Barack Obama no mundo.
“Se Snowden estivesse no Brasil, é possível que ele pudesse fazer muito mais para ajudar o mundo a entender como a NSA e aliados estão invadindo a privacidade de pessoas no mundo todo, e como podemos nos proteger”, completa Miranda.
Em entrevista exclusiva ao Terra nesta terça-feira, o brasileiro falou da importância das declarações de Snowden no combate à espionagem internacional. “Se o Brasil der asilo, os EUA não poderão fazer nada. Nós precisamos dos EUA na economia? Sim, mas eles também precisam da gente. Estamos pensando em ajudar uma pessoa. Ele é um grande herói para o mundo inteiro e o Brasil pode peitar os EUA.”
Carta aberta ao povo brasileiro
O delator do esquema de espionagem do governo americano, Edward Snowden, disse que iria colaborar com as investigações sobre as ações da NSA em uma “carta aberta ao povo brasileiro”. Divulgada nesta terça por David Miranda, a carta sinaliza ainda o pedido de asilo político no Brasil. Veja o documento na íntegra:
“Uma carta aberta ao povo do Brasil, de Edward Snowden
Há seis meses, saí das sombras da Agência de Segurança Nacional (NSA) do governo dos Estados Unidos para ficar na frente da câmera de um jornalista. Eu compartilhei provas de que alguns governos estão construindo um sistema de vigilância em todo o mundo para monitorar secretamente o modo como vivemos, com quem falamos e o que dizemos. Eu me coloquei diante de uma câmera com os olhos abertos, sabendo que a decisão iria custar a minha família, minha casa e que arriscaria a minha vida. Eu fui motivado por uma crença de que os cidadãos do mundo merecem entender o sistema em que vivem.
Meu maior medo era de que ninguém ouvisse minha advertência. Nunca fui tão feliz em estar equivocado. As reações de alguns países têm sido particularmente inspiradoras para mim e o Brasil é certamente um deles.
A NSA e outras agências de espionagem aliadas nos dizem que, pelo bem da nossa própria segurança, em nome da segurança de Dilma, em nome da segurança da Petrobras, revogaram nosso direito à privacidade e invadiram nossas vidas. E o fizeram sem pedir a permissão da população de qualquer país, nem mesmo do deles.
Hoje, se você carrega um telefone celular em São Paulo, a NSA pode manter o controle de sua localização: eles fazem isso 5 bilhões de vezes por dia com as pessoas ao redor do mundo . Quando alguém em Florianópolis visita um site, o NSA mantém um registro de quando isso aconteceu e o que essa pessoa fez lá. Se uma mãe em Porto Alegre chama seu filho para desejar-lhe boa sorte no vestibular, a NSA pode manter esse registo de chamadas por cinco anos, ou mais. Eles ainda controlam quem está tendo um caso ou vendo pornografia, em caso de necessidade de prejudicar a reputação de seu alvo.
Senadores norte-americanos dizem que o Brasil não deve se preocupar, porque isso não é “vigilância” e sim “coleta de dados”. Eles dizem que é feito para mantê-lo seguro, mas eles estão errados . Há uma enorme diferença entre os programas legais, espionagem legítima, legítima aplicação da lei – em que os indivíduos são direcionados com base em uma suspeita razoável individualizada – e estes programas de vigilância em massa que põem populações inteiras sob um olho que tudo vê e guardar cópias para sempre. Esses programas nunca foram destinados ao combate do terrorismo: são sobre espionagem econômica, controle social e manipulação diplomática. Elas (espionagem) são por poder.
Muitos senadores brasileiros pediram minha ajuda com suas investigações sobre suspeita de crimes contra cidadãos brasileiros. Expressei minha disposição de auxiliar, quando isso for apropriado e legal, mas, infelizmente, o governo dos EUA vem trabalhando muito arduamente para limitar minha capacidade de fazê-lo – indo tão longe a ponto de forçar o pouso do avião presidencial de Evo Morales para me impedir de viajar para América Latina! Até que um país conceda asilo político permanente, o governo dos EUA vai continuar a interferir em minha capacidade de falar.
Seis meses atrás, eu revelei que a NSA queria ouvir o mundo todo. Agora, o mundo inteiro está escutando de volta, e quer falar também. E a NSA não gosta do que está ouvindo. A cultura de vigilância em todo o mundo indiscriminada, exposto a debates públicos e investigações reais em todos os continentes está entrando em colapso. Há apenas três semanas, o Brasil levou o Comitê de Direitos Humanos das Nações Unidas a reconhecer pela primeira vez na história que a privacidade não para onde a rede digital começa e que a vigilância em massa de inocentes é uma violação dos direitos humanos.
A maré virou e, finalmente, podemos ver um futuro onde podemos desfrutar de segurança sem sacrificar a nossa privacidade. Nossos direitos não podem ser limitados por uma organização secreta e as autoridades americanas nunca deverão decidir as liberdades dos cidadãos brasileiros. Mesmo os defensores da vigilância em massa, aqueles que não podem ser persuadidos de que as nossas tecnologias de vigilância já ultrapassou perigosamente controles democráticos, agora concordam que, nas democracias, a vigilância do público deve ser debatido pelo público.
Meu ato de consciência começou com uma declaração: “Eu não quero viver em um mundo em que tudo o que eu digo, tudo o que faço, todos com quem eu falo, cada expressão de criatividade, amor ou amizade seja registrado. Isso não é algo que eu estou disposto a apoiar, não é algo que eu estou disposto a construir e não é algo sob o qual estou disposto a viver”.
Dias depois, foi-me dito que meu governo me fez apátrida e queria me prender. O preço para o meu discurso era o meu passaporte, mas eu pagaria de novo: eu não vou ser o único a ignorar a criminalidade por causa do conforto político. Eu prefiro ficar sem um estado a não ter voz.
Se o Brasil ouvir apenas uma coisa de mim, que seja esta: quando todos nós nos unirmos contra as injustiças e em defesa da privacidade e os direitos humanos básicos, poderemos nos defender até mesmo dos sistemas mais poderosos.”

Fonte: Jornal do Brasil

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