Aumento da renda não melhorou nível de educação
Sociólogo Bolívar Lamonier citou exemplos positivos e negativos de países que tentaram fazer projeções de futuro
O historiador e sociólogo Bolívar Lamonier iniciou sua palestra na 6ª Conseguro, que teve como tema o Mercado Segurador no ano de 2025, citando exemplos positivos e negativos de países que, em determinados momentos de suas histórias, tentaram fazer projeções de futuro algumas bem-sucedidas, outras nem tanto.
Como exemplo positivo, citou a África do Sul, que enfrentou um duro processo de radicalização entre governo e oposição, no início dos anos 90. Um pequeno grupo de representantes dos dois lados sentou-se, secretamente, para avaliar a situação, percebendo que a continuidade daquele processo levaria a uma terrível guerra civil. As reuniões secretas prosseguiram por quatro anos, contando, inclusive, com a presença de Nelson Mandela, que saía secretamente da prisão para esses encontros. Assim, a guerra civil foi evitada e Mandela, eleito presidente.
O exemplo negativo deu-se na Alemanha, no período anterior à Segunda Guerra Mundial, quando o antissemitismo e as ideias radicais abertamente pregadas pelo partido nazista não foram suficientes para promover uma previsão realista de onde a situação poderia chegar.
Já no Brasil, nas décadas de 50 e 60, segundo Bolivar, havia uma crença quase religiosa de que o crescimento da economia levaria a uma sociedade mais harmoniosa, com a urbanização promovendo a redução dos conflitos. Ninguém pensou, porém, nas pressões junto ao serviço público, na necessidade de educação e em outras questões. Com a urbanização, imaginaram que a satisfação da população aumentaria e, consequentemente, a criminalidade diminuiria. Mas quem disse que o crescimento econômico, pura e simplesmente, leva ao fim das mazelas e da corrupção?, questionou. Hoje, fico contente de ver o setor de seguros pensando o futuro do Brasil, afirmou.
Segundo Lamonier, com o crescimento da economia, disponibilização do crédito e aumento da renda, uma parcela da população que passou a consumir mais, mas o tem um nível educacional aterrorizantemente baixo. Não consigo pensar a classe média assentada sobre o emprego, com falta de capital humano, sem base da propriedade pequena e rural.
O sociólogo disse que o Brasil precisa perder o preconceito contra a iniciativa privada e reduzir o excesso de regulação do estado. A chegada do PT ao poder reforçou a entrada no debate democrático de grupos que antes não buscavam esse caminho, afirmou.
Fonte: Revista Cobertura
